quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

corrida e lazer: que tênis usar?


para correr, bom mesmo é calçar um tênis rodado. quem garante é o doutor em biomecânica Júlio Cerca Serrão. O pesquisador elaborou uma tese de doutorado sobre calçados esportivos e continua pesquisando o tema no Laboratório de Biomecânica da Universidade de São Paulo (USP). "fizemos testes de zero a mil quilômetros e os tênis continuavam funcionando perfeitamente". isto é, a proteção contra o impacto continuava intacta, mesmo depois dos 600 quilômetros, marca em que os corredores costumam aposentar os calçados."ao final, só houve um problema: eles estavam meio sujos e feios", brinca o especialista.

a pesquisa ainda mostrou que a área de contato entre a planta do pé e a palmilha do calçado aumentou 12% do zero aos 100 quilômetros. "com o tempo de uso, o tênis vai se desgastando e se acomodando ao pé", explica Serrão. "o ajuste melhora a resposta biomecânica, diminui a pressão e aumenta o desempenho do atleta", resume.

a diferença entre impacto e pressão

impacto é a força de reação do solo exercida sobre o calcanhar, o primeiro a se encostar no chão. ele repercute nas pernas e nos quadris. o tênis, velho ou novo, se for de boa marca, confere proteção, mas não elimina o impacto por completo.

pressão é a forma como o impacto é distribuído na planta do pé. quanto maior a área, menor a pressão. em média, a área de contato entre uma palmilha bem usada e o pé é 5,6 centímetros quadrados maior em relação às mais novas. ou seja, o tênis velho reduz a pressão.

sabe aquela idéia de que o tênis confere uma espécie de proteção mágica? "Não é bem assim", diz o professor Serrão. o impacto depende não só do calçado mas também do tipo de piso e do padrão de movimento da pessoa — se ela flexiona ou não os joelhos na aterrissagem, por exemplo. hoje em dia tem até muita gente treinando sem tênis numa boa. "O exercício deixa a musculatura do pé mais ativa e ajuda a formar o arco plantar", aprova Serrão.

muitos corredores têm o hábito de deixar o tênis "descansar" para evitar o chamado “bottom-up” — a compactação do material do solado causada pelos saltos. tanto zelo com o calçado é desnecessário, mas com o nosso corpo... "todo mundo se preocupa com o tênis e se esquece de cuidar de si", lamenta Júlio Serrão. o tênis tira dia de folga, mas o corredor não. "em geral as fraturas por estresse são causadas pelo excesso de treino, isto é, por sobrecarga mecânica repetitiva", segundo a professora de educação física e técnica de corrida Silvia Aguilhar. “o ser humano tem a biomecânica adequada para correr e suportar o impacto gerado pela corrida”, afirma a professora. “o problema é que o corredor muitas vezes treina de forma inadequada, aumentando muito o volume (distância a ser percorrida ou quantidade de dias de treinamento na semana) ou a intensidade (velocidade da corrida) de forma desproporcional, ou às vezes sem ter condições de suportar a quantidade de trabalho a ser realizado. e sem falar no repouso, na ausência de atividades, período necessário e fundamental para garantir a qualidade do treinamento, assim como a saúde e o bem-estar pessoal”.

o tênis considerado ótimo por alguém pode gerar problemas em outra pessoa cujo formato do pé leva a atritos com a costura. para a professora Silvia Aguilhar,"não adianta se forçar a usar um tênis porque ele é bom, porque ele é o mais vendido. o tênis tem que se adequar ao seu pé".

"os tênis mais modernos são baseados em pesquisas sobre calçado inteligente, por isso são mais caros, mas achar que um tênis de R$ 1.200 tem um preço proporcional à proteção que oferece é muito otimismo", diz Serrão

Um comentário:

  1. gostei de saber que podemos e devemos ser menos consumistas quanto aos tênis, já que todos os mais conhecidos garantem proteção aos pés independentemente de seu preço...

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